20 de dezembro de 2010

Balanço

Se esses últimos 22 anos valessem uma biografia, 2010 seria o clímax da narrativa – o ponto alto de minha vida. Surpresa não foi. As expectativas começaram altas já no fim de 2009, e alguma coisa me dizia que o próximo ano – no caso, este – seria marcante

Programada para passar um ano sabático nos Estados Unidos, ansiosa por realizar um sonho de longa data, corri contra o tempo. Os primeiros dez dias de janeiro foram suficientes para que eu largasse meu emprego – tudo bem, meu estágio –, trancasse a faculdade de Jornalismo no último período, arrumasse as malas e deixasse o país com a mirabolante ideia de não mais voltar. Tudo que eu buscava era uma nova vida, uma chance de começar diferente em um lugar onde eu pudesse ser outra Caroline. Foi com a cara e a coragem – além de duas malas recheadas, é claro – que eu embarquei, sozinha, para a terra do Tio Sam. Se no caminho me sentia forte e confiante, foi só no aeroporto que percebi o quanto temia seguir com as minhas próprias pernas. Tive medo de abandonar a comodidade e a segurança e enfrentar o desconhecido. Mas foi o adeus daqueles que amo que derrubou minhas certezas e me fez ter vontade de desistir antes mesmo de começar. Em cada abraço eu perdia uma parte de mim – como doía. Eu não estava preparada para partir e nem sequer imaginava que aquele momento era apenas um aperitivo das despedidas que o ano ainda me reservava.

Nem mesmo as luzes e as lojas de Nova Iorque conseguiram compensar o descontentamento que eu sentia e a saudade que me devorava. Eu simplesmente não conseguia me fazer feliz. Não gostava da minha nova família, das minhas novas amigas, das minhas novas atribuições. Aquela não era a minha vida. Não conseguia entender o sentido de desperdiçar um ano ali. Não foi à toa que eu deixei quase todas as lágrimas na América. Cada dia era um tormento, uma vitória. E mesmo que já tivessem ido 15 ou 20 deles, eu só conseguia pensar naqueles outros 300 e tantos que estavam por vir. Pressenti que aquilo me deixaria doente. Talvez essa possibilidade fosse apenas uma desculpa criada por mim mesma como justificativa do meu fracasso. Não é fácil para uma pessoa orgulhosa como eu admitir que errou e dar um passo para trás. De qualquer forma, voltei para casa. Foi com surpresa que as pessoas me receberam em fevereiro do mesmo ano, dez meses antes do previsto. Em meio ao misto de emoções, o que muitos não perceberam - nem eu mesma - é que ali já estava outra Caroline. Apesar do pouco tempo fora de casa, as situações e sentimentos que vivenciei me fizeram crescer, e talvez essa seja a marca registrada deste ano: o meu crescimento, em diversos aspectos.

Prefiro resumir a experiência com o ditado: "o bom filho a casa torna". Desempregada, a única preocupação que rondava a minha cabeça era me formar jornalista. Destranquei a faculdade. Foi com surpresa que recebi a ligação da minha antiga chefe me convidando a retomar o estágio que tinha abandonado. Deixando o orgulho de lado pela segunda vez no mesmo ano – um grande feito para mim – aceitei. Aqueles primeiros meses passaram discretos, sem serem notados. Levantava cedo para ir à faculdade, almoçava, passava o resto do dia no trabalho. Horas livres eram reservadas para o TCC, os livros ou o Petrus – meu cachorro. Uma vida monótona, sim, mas que eu encarava como minha. Foi então que, como num filme de aventura, três mosqueteiros voltaram diretamente do passado para me salvar. No lugar de Athos, Porthos e Aramis, eu recebi Renan, Meirelles e Hélio. Como começou ainda é um mistério para mim, o que posso afirmar é que essa amizade definitivamente mudou o meu conceito de fim de semana. Engenharia, Direito e Medicina. Acrescente o Jornalismo e misture bem. O resultado é uma combinação interessante, discussões intermináveis e horas de diversão garantidas. Se por um lado Deus não me reservou muita sorte no amor, ele já compensou nos amigos. Poxa vida, como eu sou grata por ter encontrado, ou melhor, reencontrado esses três. Ainda nessa maré de sorte, antes mesmo das férias de julho, eu arrumei um novo emprego, que mesmo sem saber, me traria em pouco tempo muito mais do que a comodidade de trabalhar perto de casa. A Assessora Comunicação era a empresa que roubaria as horas do meu dia a partir de então.

Com o passar dos meses, outra despedida, já prevista, se aproximava. Os quatro anos da faculdade de Jornalismo estavam chegando ao fim. Se por um lado eu estava feliz de finalmente conquistar aquele diploma – ok, já não vale mais muita coisa –, por outro eu estava triste de me separar dos fieis companheiros de todas as manhãs. A turma, que em razão das brigas frequentes sempre esteve um pouco separada, agora, definitivamente, alcançaria o fim da linha. Fechávamos um ciclo. Seria injusto de minha parte não reconhecer o quanto o Adriano, a Rose e a Camila foram parceiros nessa batalha contra o tempo. Eles mostraram em atitudes o quanto os amigos são importantes na hora do aperto. São mais três que levo comigo. E como o ano pedia novidades, a comemoração do sucesso dos recém-formados jornalistas só poderia ser no bar, estabelecimento nunca antes frequentado por mim. Brincadeirinhas a parte, para uma pessoa que não tomava nem champanhe no Ano Novo, um copo de saquê com morango já é um grande avanço – e esse eu tomei e gostei.

Mas, parece que assim como nas novelas, o destino reservou o melhor para o final. Foi também neste ano que conheci um "novo" nome daquela lista de poucas pessoas que tem o poder de mudar uma vida – não há como negar, quando se trata de amizade, eu sou mesmo privilegiada. Tímido, ele foi mais uma vítima do meu imperdoável pré-julgamento. Por sorte, paguei a língua outra vez. O Gustavo entrou na Assessora e foi como se o trabalho, aos poucos, ganhasse um novo sentido. Além de aprender com um grande jornalista, tive lições de vida com um grande homem. Descobri um verdadeiro amigo e, de repente, passar os dias com alguém discordando de tudo que eu dizia e acreditava, tornou-se um prazer. Sutilmente, ele questionou minhas atitudes, meus preconceitos, meus ideais, sem nunca me criticar – gentil como sempre. Ele pode até não concordar, mas é mestre em lidar com a cabeça das pessoas – pelo menos a minha. Fez com que eu duvidasse de Deus, enxergasse o PT com outros olhos, e repensasse a instituição do casamento. Para falar a verdade, hoje eu não tenho mais nem a certeza que o homem pisou na Lua. E, sinceramente, eu gosto disso. Foi numa mesa de bar defendendo o governo Lula - parece uma cena impossível, mas, acredite, isso aconteceu -, que me dei conta de como o Gustavo me mudou e como ele é importante para mim. Não pude fazer nada, a não ser rir. Lá foi mais um sorriso para a infinita lista de dívidas que tenho com ele. Ainda tinha os olhos brilhantes de uma criança que ganha o maior presente da festa, quando o destino me passou a perna e tirou de minha convivência diária uma pessoa que me faz tão bem. A partir de agora, o Gustavo traça novos rumos profissionais, e a experiência só me leva a crer que a distância tende a aumentar com o tempo. De tão triste fiquei sem ação, e não consegui dizer a ele – em mais uma maldita despedida neste ano – o quanto ele é especial para mim e como sou grata, por tudo. Foi o próprio Gustavo que me ensinou que viver não tem que ser complicado, e realmente não é. Mas que às vezes é doído demais, isso ele não pode negar.

2010 me derrubou essa última vez e agora parte com gosto amargo. Para 2011, desejo apenas mais doçuras, menos despedidas e momentos tão marcantes como os deste ano, que hoje já não passa de uma inofensiva página prestes a ser destacada do calendário.

4 comentários:

Meirelles disse...

LINDO VAZ.....
VC TB É MTO IMPORTANTE PARA MIM...

Rose Prata disse...

Parabéns pelo blog. Não posso deixar de falar que vc é muito admiravél e sabe que gosto de pessoas com personalidade forte.
A caminhada do TCC foi legal pq vc fez parte dessa caminhada.
Bjsss

Anônimo disse...

Com certeza não será só uma página destacada de um calendário. Agora, mais do que nunca, você faz parte da minha história de uma maneira significativa para sempre!

Que venha 2011.

Te amo vazinha

Bju =]

Hélio Zaffaneli disse...

Como as coisas aconteceram não sabemos... Mas que é muito bom estar com vocês isso ninguém pode negar... Que venha mais um ano ae!!!! Texto diz tudo, muito foda! Se cuida Vaz